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24/01/2015

A Revista do Expresso

Tito Mouraz não é propriamente um desconhecido (foi o vencedor do Prémio Internacional Emergentes dos Encontros da Imagem em 2013, e expôs no ano passado no Carpe Diem em Lisboa), mas a presente exposição lança uma luz mais duradoura sobre a sua produção fotográfica recente, nomeadamente sobre a série “Casa das Sete Senhoras” que remete para uma história simultaneamente auto-biográfica e mítica na região da Beira Alta em torno de uma casa supostamente assombrada onde viveram sete mulheres. 

O fotógrafo aproxima-se do seu objeto, valorizando os elementos espaciais mas também a presença das pessoas que o habitam. As suas imagens a preto e branco juntam  à dimensão fantasmática das narrativas orais a fantasmagoria inerente à natureza da fotografia. Neste caso elas geram uma corrente de pequenas revelações sobre a natureza do lugar que Mouraz parece conseguir extrair articulando precisamente um equilíbrio entre o visível e invisível. Isso acontece em relação  ao ambiente do qual Tito conserva o caráter obscuro (um campo de palha batido pelo vento, uma árvore espectral mergulhada no negrume da noite, uma escada vertical que parece subir rumo ao vazio) ou em relação a outros indícios que parecem aproximar-se mais de aspetos memoriais e autobiográficos sem nunca os desvelarem totalmente (a fotografia não é uma arte narrativa e a de Mouraz muito menos), como a imagem de um cavalo de pau, a visão de uma mulher idosa de rosto tapado ou os patos que parecem vogar num mar negro. Estes são alguns exemplos de uma imagética que com frequência se aproxima de um realismo mágico, sem nunca o tornar caricatural ou ceder à tentação de revelar o que deve permanecer obscuro ou dessa obscuridade ser a imagem.

 

Martins, Celso, in “A Revista do Expresso”, ed. 2204, 01/2015