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Casa das Sete Senhoras

Ainda se diz por aqui que a casa está assombrada.
Na casa do Casal viviam sete senhoras, todas irmãs solteiras. Uma era bruxa. Em noites de lua cheia, as senhoras, voariam nas suas vestes brancas da varanda para os ramos frondosos do castanheiro, sobranceiros à rua. Daí seduziriam os homens que passassem.

Na Casa das Sete Senhoras, conversar, saber como era antes de mim, ouvir e imaginar, foi tão importante quanto o ato de fotografar. Comecei por fazer alguns retratos de pessoas. Interessaram-me porque sempre viveram aqui e estão ligadas à terra como as árvores. Falam do tempo, das suas recordações, das perdas… muitas já vestem de preto.

Esta série dá conta de um persistente regresso ao mesmo lugar, para perscrutar as suas diferenças (a lenta desactivação do maneio agricola, a transformação progressiva do território, o envelhecimento…), porém escutar o mesmo mocho, a mesma raposa, as mesmas estórias.

Tal como na lenda, talvez tenha sido a feição mágica e medonha, desta experiência cíclica, o meu maior ferimento: a noite, os fumos, os cadáveres, a lua, a ruína, os sons.

Um lugar de afetos, afinal, também nasci aqui.

Beira-Alta, Portugal [2010-2015]

Tito Mouraz