< TextosOpen Space Office

Open Space Office

A série aqui apresentada foi realizada em Portugal durante 3 anos, e representa uma paisagem transformada que reflecte a existência humana como ser que constrói, reconstrói e a contempla. A paisagem aparece-nos, irreversivelmente, transformada tendo sido esta transformação que despertou o meu interesse para a concretização deste projecto, tomando, deste modo, a própria paisagem e respectiva matéria como referência.

Assim, estes trabalhos são acima de tudo representativos de uma realidade que sofre diariamente um processo acelerado de transformação. Portanto, as imagens não mostram mais do que uma realidade transitiva, numa paisagem natural paulatinamente em transmutação. São espaços imponentes únicos, de inegável impacto visual que conferem às imagens um grande conteúdo formal e plástico. Saliento, que estes foram os aspectos em que me concentrei, e visualmente tentei mostrar o que de melhor esta intervenção poderia oferecer ao olhar, quer ao nível da configuração formal, quer ao nível da harmonia cromática e lumínica que caracterizam estes espaços criadores de um ambiente sui generis. Neste sentido, estamos perante um diálogo entre a natureza e a acção humana, entre a harmonia do recorte texturizado e o que nele cresce, o que a envolve e transforma, como é particularmente visível nas primeiras imagens desta série, dando quase a ideia de um todo orgânico. Considero difícil transpor para a película a experiência pessoal de tudo o que se sente e de tudo o que se observa nestes locais rasgados e imensos, onde o silêncio é sentido de uma forma “anormal” e intimidatória. É sabido que a imagem não substitui o real.

Optei, por isso, por recortes integrantes, parcelas de horizonte escondido, de paisagem incompleta, propondo assim, outro modo de ver, já que a proximidade a estes locais, que crescem também no sentido inverso ao habitual, passam despercebidos ao espectador quase como lhe dando a oportunidade de os reconstruir.

Tito Mouraz